quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Á Igreja de Èfeso

À Igreja de Éfeso

(Apocalipse 2.1-7)


Éfeso significa desejável e a igreja que lá se localizava, na Ásia Menor – atualmente o território corresponde à área oriental da Turquia – é apresentada por Jesus numa revelação a João na ilha de Patmos como o protótipo de uma igreja notória pela sua beleza ética e estética que começa a apresentar sinais de embotamento afetivo.

É uma igreja que assumiu sua vocação missionária, isto é, ser testemunha verbal, atitudinal e comportamental de Jesus Cristo perante o mundo, ciente das implicações disso: muito trabalho com os que estão dentro e com os que estão fora de sua tenda e disposição para ser perseguida pelos de dentro e pelos de fora do sistema religioso. Por isso, as inevitáveis tribulações pelas quais sofre – fruto do seu labor e não de sua gatunagem - não a fazem retroceder, mas a perseverar na fé, não na sua insensatez, na sua vaidade megalomaníaca.

Ela é o protótipo também da igreja que se destaca pelo seu forte “sistema imunológico”, ou seja, por uma espiritualidade sadia fundamentada solidamente na Palavra de Deus revelada nas Escrituras Sagradas, que a protege dos ataques dos “vírus apostólicos”. “(...) puseste à prova os que a si mesmos se declaram apóstolos e não são, e os achastes mentirosos (Apocalipse 2.2). Ela não se deixa levar por “ventos de doutrinas”, “moveres apostólicos”, “palavras proféticas” etc.

Ela odeia as obras dos nicolaítas (provém dos termos gregos nikao, conquistar, e laos, povo comum), uma seita que considerava seus clérigos uma classe superior, mediadores entre Deus e os seres humanos, o que legitimava a “conquista do povo comum”. Teria alguma semelhança com a prática de alguns pastores (as), bispos (as) e apóstolos (as) evangélicos que ameaçam com maldição os membros de suas igrejas caso eles resolvam sair da sua “cobertura espiritual”?

Entretanto, Jesus a adverte de que ela perdeu o seu primeiro amor. Em minha carreira cristã tenho observado que a Igreja costuma diagnosticar como sintomas dessa patologia espiritual – perda do primeiro amor –, arrefecimento do fervor espiritual, queda na produtividade eclesiástica e freqüência a lugares inconvenientes (?), para um cristão evangélico (?), como bares, cinemas e baladas. Porém, tenho constatado que fervor espiritual, alta produtividade eclesiástica e freqüência a lugares convenientes (?) a um cristão evangélico (?) não são sinais clarividentes de saúde espiritual, de quem está em primeiro amor.

O que tenho constatado pelo volume das evidências é que os sintomas muitas vezes são esses que costumam ser diagnosticados, mas a causa invariável é o embotamento do sentimento de solidariedade da raça. Quando isso ocorre, a consciência de que a salvação ocorreu por exclusividade da graça de Deus em Jesus Cristo, não porque o sujeito fosse melhor do que ninguém, e que a “única” diferença entre o salvo e o perdido é Cristo, começa a esvair-se. O sujeito começa a acreditar na sua justiça própria, de que os seus méritos foram um elo para salvação e de que seria uma injustiça da parte de Deus se ele não lhe salvasse.

Como conseqüência dessas deduções o sujeito crente (?) não evangeliza mais com amor, mas com raiva, ou simplesmente se abstém de evangelizar, com alegações de que não se deve atirar pérolas aos porcos, de que quem for predestinado vai ser salvo de qualquer forma – no caso do calvinista ortodoxo (?) - ou de que já tem uma longa ficha de serviços prestados à Igreja e que está no tempo de sua aposentadoria ministerial.

Jesus alerta para o tratamento urgente dessa doença espiritual caso contrário ele moverá o seu candeeiro daquela igreja e ela ficará sem a iluminação divina diante das trevas históricas e a esperança de um novo mundo se apagará.

Por Julio

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