quarta-feira, 17 de outubro de 2007

A Igreja de Esmirna

Esmirna significa mirra, uma resina perfumosa que é extraída da arvore de igual nome, mediante esmagamento. Sua raiz etimológica é o termo hebraico maror ou murr, que significa “amargo”. A mirra era um dos ingredientes do óleo da unção que Deus determinou a Moisés preparar (Êxodo 30.23), era usada para embalsamar os mortos e evitar suas putrefações (João 19.39), e foi um dos presentes dado pelos magos a Jesus por ocasião de seu nascimento (Mateus 2.11).

A igreja que lá se localizava atravessava um processo histórico-existencial amargo, marcado por pobreza material e pressões religiosas, que a estava esmagando: “Conheço a tua tribulação, a tua pobreza (mas tu és rico) e a blasfêmia dos que a si mesmos se declaram judeus e não são, sendo, antes, sinagoga de Satanás (Apocalipse 2.9)”. Todavia, o que ela exalava não era amargura, era o bom perfume de Cristo.

Na carta Jesus ressalta a riqueza espiritual da igreja, a despeito de sua pobreza material, a encoraja a continuar perseverando, mas a alertava de que dias piores estariam por vir. Ele permitiria – por motivos inescrutáveis – que Satanás apronte algumas diabruras contra ela: “Não temas as coisas que tens de sofrer. Eis que o diabo está para lançar em prisão alguns dentre vós, para serdes postos à prova, e tereis tribulação de dez dias. Sê fiel até a morte, e dar-te-ei a coroa da vida (Apocalipse 2.10)”. Porém, como diz versículo, Ele a estimula a não temer, porque a coroa da vida está garantida àqueles que perseverarem até o fim.

Atualmente uma revelação desse tipo seria rejeitada nos círculos ou circos evangélicos contaminados pela teologia da prosperidade. Os fiéis interpretariam (?) essa mensagem como uma profecia de derrota, que teria que ser rejeitada e amarada em nome de Jesus (?), e “profetizariam” benção e prosperidade. “Eu como servo fiel, filho do rei, cabeça e não cauda, não aceito passar por mais tribulação, perseguição e humilhação na minha vida, eu determino que Deus reverta a minha sorte em nome de Jesus”, reagiriam alguns. Pensariam outros: “Essa igreja tem sido tão fiel a Cristo, não obstante a tamanha tribulação, porque Deus ao invés de honrar a fé dela, envia tribulação pior ainda?”

Outro fato interessante nessa passagem é que Jesus adjetiva como “sinagoga de Satanás”, não uma assembléia de satanistas, como temos atualmente, nem a irmandade dos devotos da deusa romana Cibele, a “mãe dos deuses”, deusa da fertilidade, a qual a cidade de Esmirna tinha um templo dedicado. Jesus usa esse predicado para se referir a um grupo de judeus, que usava o nome de Deus para se opor vigorosamente à mensagem do Evangelho. Ou seja, para Jesus sinagoga de Satanás é todo agrupamento religioso que se opõe a Palavra de Deus – Jesus Cristo -, a sua obra, ainda que acredite estar trabalhando em prol delas.

Nessa mesma linha é oportuno mencionar que Jesus – pelo menos nos registros literários que temos – discrimina especificamente como filhos do “filhos do diabo”, exclusivamente membros de uma confraria religiosa, que se considerava ”guardiã da lei e da moral religiosa”, a saber, os fariseus (João 8.44). Curioso, não é?

Que a Igreja de Cristo no Brasil possa se inspirar na Igreja de Esmirna e exalar o perfume de Cristo e não mais o odor fétido, que tem sido emanado pela putrefação de tantas instituições que afirmam operar em nome Dele, mas que tem operado mais como sinagoga de Satanás. E se for necessário para que Igreja volte a almejar a Reino e não a glória e o poder temporal, que Deus permita que ela seja perseguida e esmagada.

Por Júlio Cesar

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