Por Julio César
Há pelo menos seis anos numa freqüência ascendente tenho recebido e-mails, conversado on-line, por telefone e principalmente in loco com pessoas decepcionadas com a instituição histórica, igreja; com os atores e atrizes que protagonizam os espetáculos religiosos, que não assumem as contradições de suas pessoas com suas personas que projetam para o público cultua-la, usarem como objetos de suas fantasias espirituais e mitológicas, e eles inflarem os seus egos; com a cultura evangélica, em seus variados matizes, principalmente com as mercadológicas versões gospel. Com muita gente que devido sua imaturidade espiritual ou por defesa psicológica, diante das violências institucional-espirituais, do espólio, da manipulação emocional que sofreram, não souberam discernir a incorruptibilidade da Igreja de Cristo da corruptível instituição igreja, o Jesus do Evangelho, do Jesus da religião – fabricado à imagem e semelhança dos profissionais da fé e/ou ao gosto do mercado consumidor evangélico – e abandonaram as trilhas da Fé cristã. Não poucas delas hoje são possuídas de uma aversão a tudo que diz respeito à fé cristã. Tratam-na com cinismo e deboche. Deleitam-se quando encontram alguém para atacarem a igreja, e despejarem os seus venenos da alma – ira, amargura, ressentimento - contra ela. Assim como o diabo foge da cruz, fogem de toda tentativa de conversa sobre Deus que tenha o caráter evangelizador. A maioria dessas pessoas me parece ter sido sincera e bem intencionada na sua trajetória pelas igrejas cristãs. Poucas delas me parecem terem tido motivações e intenções mesquinhas. Evito ao máximo sugerir para as pessoas saírem de suas comunidades religiosas. Via de regra, digo que enquanto for possível elas ministrarem o Evangelho de Jesus Cristo, com seus dons, despidos da vestes e maquiagens religiosas, sejam elas discretas ou extravagantes, que permaneçam onde estão, como porto seguro, como cidade-refúgio, àqueles que buscam amor e graça. Mas se isto for interpretado como rebeldia pela liderança, e a lei da mordaça for imposta, que não partam para o confronto, e sim procurem uma comunidade ou gerem uma onde possam viver segundo o que crêem, pois Deus não é Deus de confusão. Cientes de que todo agrupamento humano, por mais sublimes que sejam os princípios que o une, não está imune, aos conflitos humanos, as contradições existenciais. Porém, já faz não pouco tempo que tenho estado pouco paciente com alguns cristãos que sempre que me procuram ou quando os encontro fazem as mesmas críticas às suas igrejas, reclamam estar desapontados, cansados e céticos com elas, das injustiças que vem sofrendo, enfim a mesma ladainha, todavia não querem ou não conseguem larga-las. Tenho percebido que muitos criticam a igreja simplesmente pelo prazer em criticá-la, não pelo desejo de transforma-la, pois no fundo gostam dela do jeito que ela é ou ela está, pois desse modo acreditam estar justificada sua inoperância na fé, seu desserviço cristão. Passam com o decorrer do tempo há terem prazer na lamúria aliado a um saudosismo mitológico. Fora àqueles que a criticam para representarem um tipo progressista, intelectual, mente aberta e fugir dos rótulos de conservador, fundamentalista e não serem percebidos como um evangélico alienado, ou por pura estratégia de poder. Neste caso, é só serem promovidos na máquina eclesiástica ou receber alguma honraria para mudarem o discurso. Ora, penso eu, qual a virtude em permanecer numa instituição castradora, adoecedora ao corpo, a alma e ao espírito? Se a Igreja não é mediadora entre Deus e a humanidade por que eu me preocuparei com em ter a legitimidade e o seu selo de qualidade para desempenhar a minha vocação? É a ela ou a Cristo que eu prestarei contas sobre a aplicação de meus dons? A Igreja de Cristo não é um edifício físico, uma instituição burocratizada, uma agência de empregos espirituais, é um corpo vivo, formado por todos que tiveram a experiência de conversão a Jesus Cristo - alguns deles inclusive sem terem tido consciência histórica disso -, indiscriminadamente arrolados na categoria de sacerdotes, a serviço Dele para a humanidade, e não para ela mesma. Logo a Igreja de Cristo acontece aonde o amor de Cristo é encarnado em graça e justiça. No acolhimento ao que sofre, no suprimento material ao faminto, ao desabrigado, ao maltrapilho, nos encontros e gestos de amor e amizade, na promoção social dos excluídos economicamente e afetivamente, na denúncia contra a corrupção, às políticas discriminatórias e opressoras à sociedade e ao meio ambiente, sempre em nome de Jesus. Será que alguma instituição religiosa é capaz de impedir você de exercer seus dons espirituais em algum desses serviços? Para fazer a Igreja acontecer não é condição sine qua nom estar autorizado por uma instituição religioso, arrolado com seu membro, mas estar enxertado como ramo da videira verdadeira, Jesus Cristo. Por isso, àqueles que se preocupam demais com a degeneração das igrejas evangélicas digo que se preocupem menos com ela e mais com a materialização do espírito do Reino, porquanto terra é o que não falta – há em abundância – para a semente do Evangelho ser lançada e seus frutos serem colhidos.
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