quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Quero ser pequeno!

Desistindo?

Disse-lhes Simão Pedro: Vou pescar. (Jo 21, 3)
Assim, Pedro e seus amigos, sem perceber, voltam ao local onde o viram pela primeira vez, o mar de Tiberíades.

Ali estavam as coisas que eles, um dia, haviam deixado para trás.

Ali estava a "normalidade", o descanso, a realidade, o acordar de um longo sono — estaca zero.

"Vou pescar" pode ser a atitude de muita gente boa de Deus, que tá exausta.

Muitos guerreiros de primeira linha, que, por algum motivo, se ferem e se perdem na escaramuça da luta cristã.

Mas o texto mostra que não pescaram nada naquela noite.
Que maré! Nada dá certo! Uma boa pescaria, agora, seria tão bom para o ânimo, para o ego, para o recomeço. Mais... nada!

Na verdade, não há como voltar às redes.
Não somos mais os mesmos.

Nossa história não nos permite voltar a ser simples pescadores: pobres, anônimos e... felizes!
Frustrado com o insucesso, Pedro nem percebe aquele que chega na praia, para lhe confirmar os pensamentos:

"Pedro, você me ama? Então essas redes não fazem mais parte do seu mundo. Ficaram para trás.

Vem, pastoreia as minhas ovelhas".

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O começo de tudo

Fazem uns... onze ou doze anos, não me lembro bem, sou péssimo pra datas.
Estava sentado na arquibancada do ginásio assistindo o expresso luz, de Carlinhos Veiga passar o som, e se preparar para a reunião daquela noite.

Eu, um garotão paulistano, familiarizado com as guitarras e os shows de Rock, fui sutil e irreversivelmente seduzido por aquele som bem brasileiro, que vinha daquelas violas e flautas.

Tava de boa, sozinho sentado lá, no Sesc de Guarapari no Espírito Santo, ouvindo as musicas. E sem avisos “Ele” chegou.

Surpreendeu-me, comecei a sentir meu coração derreter dentro de mim, me senti feliz sentia uma alegria que não cabia em mim, repentinamente todas minhas inadequações, opressões e legalismos sumiram.

Sentimentos muito maiores do que eu, sensações que a razão não explicava e minha alma adolescente foi anfitriã de uma festa de Deus.

Era como se eu não o conhecesse e agora “Ele” estava se apresentando a mim. Sem avisos, assim na hora.

O dia em que “eu” o conheci. O dia em que “Ele” se tornou “meu” Deus.

A noite foi espetacular. Escutei o Rev. Caio pregar uma mensagem, onde descobri o que “Ele” queria de mim.

A noite em que decidi seguir Jesus e ser parecido com Ele.

A primeira noite em que não dormi.
Pensando nele!

De lá, pra cá...muita coisa rolou!

Hoje, continuo querendo segui-lo, mas sem a obrigatoriedade de manter-me sempre coerente ou me adequar as expectativas de fariseus de plantão.

Hoje quero segui-lo sem discursos idealizados, e nem quero papagaiar conceitos de livros de teologia sistemática que nada tem a ver com os dramas humanos, inclusive os meus.

Hoje quero segui-lo sem as cobranças impiedosas dos que só desejam me usar, sem amizades pontuais e interesseiras, é assim que vou viver.

Mesmo sendo como eu sou quero segui-lo, porque apesar disso, Ele continua sendo quem Ele é. Não há méritos, só graça, e essa graça Dele é mais do que suficiente pra mim.

Hoje, tento não esquecer aquele dia.

Sei que essa aventura de segui-lo vai me consumir pela vida.

É assim que quero viver.

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“Quero ser pequeno”

E disse: Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos fizerdes como meninos, de modo algum entrareis no reino dos céus.( Mateus 18:3)

Cuidado com o que você pede a Deus. Você pode acabar sendo atendido.

E isso tem acontecido comigo.

Um tempo atrás, pedi a Ele que me ensinasse, tudo novamente.

Tenho vivido a ressaca ainda, de um drama pessoal que tem me subjugado as vezes.

Por conta disso , há momentos em que me sinto prostrado.

Isso tem me ensinado

É o que tem acontecido.

Outro dia me peguei assobiando uma musica que aprendi na infancia na igreja.

Quando percebi a musica, um turbilhão de lembranças e emoções me invadiram, passei a lembrar de algumas coisas e isso me despertou uma saudade enorme.

Ando com muitas saudades.

Quero crer que "Ele" que tem colocado isso em meu coração, pra me ensinar algumas coisas.

Sinto saudade do que não sei direito. Talvez queira voltar ao tempo em que meu mundo era grande e eu tão pequeno.

A saudade também tem me ensinado.

Ela tem me ensinado, sobre a necessidade de ser criança novamente.

Me lembro de minha primeira bíblia, ganhei ela num concurso de perguntas e respostas bíblicas, dessas gincanas que faziam antigamente (se continuam fazendo não sei), numa igreja empoeirada na periferia de sampa.

Tinha uns...oito anos acho, me lembro da última pergunta, que foi a que me tornou vencedor:

- Atenção crianças, quem foi chamado “o profeta chorão”??

-JEREMIAS!!!

Nem acreditei quando coloquei minhas mãos naquela bíblia, que agora era só minha. Preta de capa dura, tinha uns mapas meio esverdeados nas ultimas páginas, e a linguagem era daquelas antigas, sem nenhuma figura, nada que estimulasse uma criança a ler.

Tentei, mas era difícil entender, muito difícil,horrível na verdade.

Enfeitei ela com uns adesivos pra incrementar. Não tinha ainda bíblia pra crianças, na verdade me parece que não havia muita preocupação com nada disso.

Me lembro, não só das brincadeiras como a que me fez vencedor da tal bíblia, mas tambem das dezenas de pãezinhos com carne louca e Ki-suco que consumi, nos finais de vigílias e programações da igreja. Eu e meu irmão, o Langa. (Langa é o apelido dele) .

Ele é 7 anos mais velho que eu, então além de ele ter que conviver com tudo isso, ainda tinha que ajudar a tomar conta de mim, e acredite, eu era muuuito malinha !

Outro dia achei uma foto minha e dele na porta da igreja, cabelinho milimetricamente repartido e reloginho do pica-pau no pulso (eu achava o máximo ).

Pra mim tudo isso era festa, eu era criança, mas ele era um pré-adolescente, então viu ?

Sobrevivemos.

Depois de sofrer grandes dores causadas pela igreja em minha vida adulta.

Depois de me comprometer até as entranhas e sem medir esforços e nem distâncias ,

mudar de estado, padecer privações que nem imaginava, depois de magoar e ser magoado, depois de em nome da religião dar uma vida de sacrifícios a quem estava ao meu lado, amealhar vitórias e derrotas, conhecer frustrações e realizações.

Depois disso tudo, descobri uma coisa.

Eu descobri que não me acostumei com os adultos.

Depois de viver ao lado de , teólogos, fariseus, auto-ditadas, soberbos e idiotas defensores apologétas das “doutrinas cristãs”, conviver com gente grande, e de quase ter minha fé asfixiada pela igreja, ando bem decepcionado.

Quero de volta a minha infância, mas sei que é impossível, então me resta um consolo, o consolo de que o reino de Deus pertence aos meninos.

Um resgate, um retorno a simplicidade, a ausência de projetos.

Um retorno a hábitos mais simples .

Meu melhor sermão, foi no último sábado quando coloquei minha filha pra dormir contando a parabola do semeador em um livrinho infantil pra ela.

Os olhos dela absorvendo a história me comoveram.

Nesse domingo a tarde mesmo, me "acabei" fazendo bolinhas de sabão na rua com minha filha, e correndo ao lado da bicicleta com rodinhas dela.

As gincanas com perguntas bíblicas de minha infância, tinham mais sabedoria de Deus do que as reuniões de sinédrio atuais com seus moralistas de plantão, que se acham representantes de Deus... sim, meu coração angustiado deseja novamente ser menino , deseja reaprender.
Espero que consiga !

Daniel Silva Raimundo

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