Não vou tentar definir o que é pós-modernidade. Há tantas definições que, certamente, cada um de nós, já ganhou a idéia do que isto significa. Alguns itens se destacam, pois, permeiam toda sociedade em seus mais variados segmentos. O pluralismo. A ausência de absolutos. As relações superficiais, liquidas, vaporosas, conquanto, ao mesmo tempo, intensas e sem limites. Sobretudo, a complexidade para se dar significado a qualquer coisa que seja. Não vou me ater às peregrinações dos primeiros cristãos, verdadeiros hebreus, nômades, por todos os motivos que a maioria de nós cristãos já estudamos. Quero me deter no que vejo acontecendo à minha volta. Com gente que conheço. Com pessoas boas. Com cristãos tidos como sérios. Com homens e mulheres que não podem ser considerados neófitos, ingênuos, simplórios ou ignorantes. Os cristãos, hoje, se empenham numa peregrinação estranha, pois, não havendo perseguição, nem lugares onde o evangelho não tenha chegado de um modo ou outro, o que até justificaria uma peregrinação, o que vemos? Vemos os cristãos peregrinando de uma comunidade local para outra. Deu um programa de TV para outro. De uma livraria evangélica para outra. De uma doutrina para outra. De um mover para outro. De uma unção para outra. De um jeito de ser para outro. De um ministério para outro. De um livro para outro. De um testemunho para outro. De um líder carismático para outro. De um monte para outro. Os cristãos estão num frenesi tido como espiritual. Os cristãos destes chamados “dias trabalhosos” perdem-se em descaminhos, crendo que encontrarão o “melhor de Deus”. Para os cristãos pós-modernos o que vale são as sensações, os sentimentos, as percepções, as emoções, os arrepios e arrebatamentos, custe o que custar. Os cristãos pós-modernos, se tornaram desassossegados, inquietos, insatisfeitos, isto é, nada os completa. A idéia do sucesso a qualquer custo. A corrida para prosperar não leva em conta nenhum valor absoluto. Por conta disto, o ativismo religioso chegou às ultimas conseqüências e é claro, tendo como resultado o esgotamento físico, emocional e espiritual. Gerando gente desconfiada, assustada, duvidosa, angustiada, ansiosa e tantos outros males da alma, ou melhor, de uma alma sedenta, faminta, que como diz o salmista, só se farta em Deus. Confesso, não creio que deva ser assim. Não creio que seja este tipo de espiritualidade que o Evangelho de Jesus propõe. Não creio que este frenesi responderá às ansiedades da alma. Creio, no entanto, ‘que há uma outra peregrinação que poderia resultar em benefícios concretos, tanto aos que peregrinarem, quanto aos que seriam tocados pelos peregrinadores. Me refiro a peregrinações que deveriam ser feitas entre homens e mulheres. Entre pessoas. Entre seres humanos. Há maridos que deveriam peregrinar em direção às suas esposas. Pais que se peregrinassem em direção aos filhos os teriam de volta. Filhos que se lançassem a uma peregrinação em direção a seus pais, experimentariam uma alegria ainda não experimentada em família. Irmãos que poderiam se encontrar mais e estreitarem a amizade, peregrinando um em direção ao outro, encurtando a distancia. Prefiro ver cristãos peregrinando rumo aos velhos abandonados em asilos e casas de repouso. Quantos benéficos, curas, libertações, salvação aocnteceriam se os cristãos pós-modernos peregrinassem ao encontro das crianças marginalizadas, adolescentes sem rumo, jovens tragados pelas drogas, homens e mulheres consumidos em seus medos. Quase não ouvimos de cristãos peregrinando entre os presos nas cadeias, penitenciarias, presídios. Quanto bem fariam os cristãos peregrinando pelos hospitais, consolando, fazendo companhia, auxiliando as famílias, virando noites como verdadeiros anjos confortadores. Quantas mudanças aconteceriam se os cristãos pós-modernos peregrinassem junto com aqueles que lutam pela justiça social. Confesso, cada dia fico mais indignado com as peregrinações feitas por cristãos aventurando-se am debates inócuos, defendendo teses vazias, envolvidos em discussões levianas, medíocres, pequenas. Penso que isto reduz o Evangelho e nos distancia da essência da fé cristã que propõe nada mais, nada menos que reconciliar o homem com Deus, já que Este esta reconciliado com os homens. Reconciliar os homens entre si. Prefiro hoje, todos os movimentos que põe gente com gente e a partir daí, aconteçam peregrinações simples, silenciosas, profundas. Mesmo que sejam, dois a dois, sem nenhuma preocupação com quantidade e visibilidade. Mas, quem esta disposto a este tipo de peregrinação? No anonimato. Incógnito. Escondido. Nos porões. Quem esta disposto a desaparecer? Bem, fica aqui a reflexão e um desabafo. Mais um.
Inverno/2007
Um comentário:
Gostei do texto Carlos. Todo mundo hj tem pressa de tudo.
Minha esperança é que a gente aprenda a ter pressa, pressa de viver, e não só sobreviver, pressa de absorver o máximo de beleza da vida, pressa de se livrar de culpas religiosas e saborear cada vez mais o eterno mano.
Abraço!
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